Silêncio e Palavra

Silêncio e Palavra

“Há quem se cale e é considerado sábio, e quem se torna odioso pela intemperança no falar. Há quem se cale por não saber falar, e há quem se cale porque reconhece quando é tempo (de falar). O sábio permanece calado até o momento (oportuno), mas o leviano e imprudente não espera a ocasião.” (Eclo 20,5-7) Em nossa sociedade atual as provisões do Eclesiástico parecem estar fora de moda. Há muitas pessoas disputando a palavra, poucas vezes aguardam a profundidade verbal que brota através do silêncio. Uma pessoa que se mantém calada, em vez de parecer sábia, pode passar por ignorante. Afinal, quem desejaria calar-se e perder a oportunidade de “exibir conhecimento”?

Muitas pessoas despontam sem ser apresentadas e dão aulas sem que lhes seja exigida docência. Poucas se deixam descobrir e que suas palavras oportunas ofereçam lições sábias em momentos necessários. São mais aqueles que enumeram suas posses, carreiras, títulos e cargos, menos as que surpreendem com sua discrição espontânea. São mais aquelas pessoas que oferecem discursos em conversas que aquelas que proporcionam soluções geniais sem alardear em publicidade.

O falar em demasia fere os ouvidos alheios, palavras vãs brotam da verborreia contínua. Um desenfreio linguístico não detém o pensamento (afasta a reflexão), sai sem critério e não permite que o trigo se separe do joio. Quem sabe silenciar dificilmente comete erros, porque antes de falar se corrige; embora o mau pensamento possa ferir a alma, ao menos se emenda sem prejudicar o vizinho.

O bom juízo encontra seu berço no silêncio interior. As conversas nascidas do silêncio são inspiradoras, alimentam o espírito, são substanciais e estimulam a santidade. Para interrelacionar diálogos silenciosos é preciso experimentar. O campo da experiência é a escola onde foram treinados os grandes místicos de todos os tempos. Sem experiência não há profundidade e tudo se converte conforme testemunha a tradição da sabedoria: “Vi tudo o que se faz debaixo do sol: eis que tudo é fugaz e vento que passa” (Ecl 1,14).

A prudência é cultivada como os camponeses que cultivam seus terrenos. Onde há paz, não há agonia nem perturbação, a paciência fecunda a intervenção. E, quanto mais silêncio, mais lucidez haverá nas posturas e decisões. As pessoas de palavras sábias não se distraem com bobagens. Um dos desafios mais difíceis, conforme a tradição bíblica, é usar a palavra para construir a comunidade. Vamos desejar que a graça de Deus, unida ao esforço pessoal, auxiliem no empenho de que nossas palavras adquiram o aroma, a essência do silêncio.

Fonte: Revista Ave Maria – Por Irmã Ângela Cabrera

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