A maioria dos que seguimos a Cristo somos “cristãos subdesenvolvidos”. As estatísticas das pessoas batizadas que não vivem a fé e não participam da vida da Igreja são aterradoras. Mas,não queremos nos referir somente aos não praticantes, ou aos já ateizados. Falamos também de nós e daqueles que, como nós, são chamados fi éis, pessoas de Igreja ou também bons cristãos.
Enquanto não estivermos “maduros” no amor, não poderemos assumir, em sentido pleno, o nome de cristãos. No início somos cristãos, porque batizados. Depois, por assim dizer, cristãos “em via de desenvolvimento”. Mas só quando na vida assumirmos a lei e a santidade de Cristo em nós poderemos nos dizer verdadeiramente cristãos.
Sendo assim, não é estranho que cada um de nós sinta-se um cristão “subdesenvolvido”. Qual é a experiência de Deus, de Jesus, de amor, de Igreja, da Palavra, da Eucaristia, da salvação que temos? E isso corresponde ao que Ele nos revela e nos chama a viver? Qual a forma, o modo, quais os meios para elevar a nossa situação espiritual?
A Igreja recebeu de Jesus a plenitude da vida e da salvação. Temos tudo em abundância, pois o Batismo nos deu direito ao nome de cristãos, porque incorporados em Cristo, e assim temos a graça de Deus, que necessita de nossa correspondência.
Muitas vezes somos terrivelmente subnutridos, a tal ponto de não sentirmos mais o estímulo da fome. E a Eucaristia está ali à espera de que nos nutramos do próprio Cristo.
Estamos assustadoramente indefesos, expostos a todos os tipos de doenças do espírito e não raramente somos contagiados. E o Sacramento da Penitência está ali para nos curar e revigorar. Estamos nus e poderíamos nos revestir de Cristo.
Estamos sem teto e todos poderíamos, já aqui na terra, encontrarmo-nos na acolhedora casa do Pai, prelúdio do Céu, se vivêssemos da realidade de sermos “concorpóreos e consanguíneos de Cristo” entre nós e nos descobríssemos irmãos e recompuséssemos a família, com a presença de Cristo no nosso meio e a circulação de bens materiais e espirituais entre nós.
Caminhamos como aqueles que não sabem para onde ir e temos nas mãos o código da vida, de cada vida: o Evangelho.
Lamentamo-nos de que hoje a Igreja está em crise e nos escandalizamos com muitos acontecimentos, não pensamos que a Igreja geralmente é como a sociedade cristã a exprime.
Só o verdadeiro cristão consegue ser homem completo. Isso traz consequências. A autenticidade, buscada pelo nosso tempo, exige-o. Por isso, devemos concluir que, aos olhos de Deus, “homem” e “cristão” são sinônimos. Sou plenamente humano sendo cristão e sendo cristão vivo a plenitude do valor e do sentido da vida.
A santidade é possível. Cristo não nos pediu o impossível. Devemos, isto sim, despojarmo-nos de um conceito deteriorado ou vulgarizado de santidade que circula, muitas vezes, entre o povo. As manifestações de milagres, êxtases e visões não são sinais constitutivos da santidade. A santidade está no perfeito amor. E hoje, época em que as sociedades e civilizações despertam, isso é um dos sinais do nosso tempo. Hoje, época em que também os povos procuram manter entre si relações fraternas e solidárias e cada particular deve ser visto em um plano mais universal, mundial, reclama-se uma santidade de massa, comunitária, uma santidade “popular”, possível para todos.
O mundo busca atualmente uma nova revolução. A revolução que espera de nós instintivamente, mesmo sem o saber, a revolução que cada cristão deve operar não é senão um ato de unifi cação interior. Infelizmente, nossa vida, assim como ela é, mesmo quando é boa não passa de uma sucessão de atos vividos frequentemente em um clima de tédio: uma vida sem muito empenho, tranquila, com pouco calor e colorido, porém, um cristianismo assim não atrai mais o homem de hoje, que segue interessado em novas respostas, que mergulha na ciência, que se assenta, ao menos em fantasia, nas bancadas dos grandes encontros internacionais para decidir a sorte dos povos e do mundo. E interessa ainda menos ao homem do mundo, que goza a vida hedonisticamente, da arte mais ou menos verdadeira, ou do operário que se agita com pensamentos maiores do que ele e luta pela justiça.
Para muitos cristãos é necessária uma nova conversão.
“É preciso que recoloquemos a vida sobre uma só coisa necessária e façamos desencadear daí o resto, todo o resto, como fascinante consequência. Essa única coisa necessária é o amor de Deus. Se nós o amarmos apaixonadamente, se Ele penetrar o coração de cada um e cada um o adorar e servir, então toda a vida da pessoa, assim como a sociedade, estará permeada de sua presença. Assim, arte e apostolado, estudo e descanso, família e escola, passear ou permanecer num leito, isto tudo resultará em poemas diversos de um único canto, em expressões várias de um só testemunho; aquele que devemos oferecer ao mundo e que unicamente nos deve interessar: o testemunho de Deus. E Ele, também por meio de nós, tornar-se-á atual hoje no mundo.”
Fonte: Revista Ave Maria – Por Chiara Lubich
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