Se as Bem-aventuranças são para crescer em vulnerabilidade às necessidades dos outros, então as Obras de Misericórdia são as práticas que coletivamente nos envolvem para responder a eles, estejam eles com fome, sede, doentes, sem-teto, nus, presos ou mesmo os mortos abandonados que precisam ser enterrados. Tanto as Bem-aventuranças quanto as obras de misericórdia são nossos caminhos – um interno, outro externo – para nos levar à comunhão com os pobres em espírito.
A misericórdia é o coração da vida cristã. Jesus nos ensina que, ao ajudarmos aqueles que sofrem, é a Ele mesmo que estamos servindo: “Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mateus 25, 40).
O que são as Obras de Misericórdia Corporais?
As Obras de Misericórdia Corporais são ações concretas de amor ao próximo, ensinadas por Cristo, que visam aliviar o sofrimento físico e material das pessoas. São gestos de caridade que fazem parte da tradição da Igreja desde os tempos apostólicos e têm seu fundamento principal no Evangelho de Mateus (25,31-46).
Como explica São Tomás de Aquino:
“A misericórdia é a compaixão do nosso coração pela miséria dos outros, que nos impulsiona a socorrê-los se pudermos.”
A origem bíblica das Obras de Misericórdia Corporais
As Obras de Misericórdia Corporais estão fundamentadas no ensinamento direto de Jesus:
📖 “Porque tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era estrangeiro e me recebestes em casa…“ (Mateus 25,35).
Ao longo do Antigo Testamento, Deus já demonstrava sua predileção pelos pobres e necessitados, exigindo do povo eleito uma atitude de justiça e compaixão. Com a vinda de Cristo, esse chamado à misericórdia se tornou ainda mais evidente, sendo um critério fundamental para a vida eterna.
Então, em Mateus 25, os salvos são aqueles que realizam as obras corporais de misericórdia — alimentar os famintos, dar de beber aos sedentos, abrigar os desabrigados, vestir os nus, visitar os doentes, visitar os presos e enterrar os mortos. Enquanto as seis primeiras são encontradas em Mateus 25, a sétima, enterrar os mortos, foi adicionada porque a prática é tão especificamente cristã quanto penetrante.
A primeira obra a surgir é cuidar dos doentes. De fato, assim como Jesus começou seu ministério com muitas curas (Marcos 1,32–33; Mateus 4,23; Lucas 4,40–41), os discípulos começaram o deles da mesma forma: logo após fazer seu notável discurso de Pentecostes em Atos 2, Pedro cura o homem coxo no início de Atos 3. Em Atos 5,12-15, vemos que houve tantas curas por Pedro que as pessoas trazem seus doentes para que a simples sombra de Pedro caia sobre elas.
Outra obra de misericórdia que rapidamente se tornou uma prática cristã foi visitar o prisioneiro. Essa obra corporal tem sido praticada consistentemente ao longo da vida da Igreja. O próprio Cristo foi um prisioneiro, como João Batista antes dele. Mais tarde, Pedro, Paulo, Tiago e muitos dos apóstolos também estão presos.
Para os cristãos, os prisioneiros eram percebidos não apenas como pessoas necessitadas, mas também como pessoas de coragem e santidade. Os primeiros membros da Igreja visitavam seus irmãos e irmãs presos, trabalhavam para libertá-los e buscavam suas bênçãos também. Clemente de Roma (35-99 d.C.) escreveu a Corinto em sua Epístola que muitos resgatavam outros oferecendo-se em troca daquele que era mantido como refém. Essa prática cristã de visitar o prisioneiro perdurou ao longo da história.
As 7 Obras de Misericórdia Corporais
Cada uma das sete Obras de Misericórdia Corporais é um convite à caridade concreta, refletindo o amor de Cristo pelos mais necessitados.
1. Dar de comer a quem tem fome
📖 “Tive fome e me destes de comer” (Mateus 25,35).
A partilha do pão é um dos gestos mais básicos de amor ao próximo.
A fome não é apenas física, mas também espiritual.
✅ Como praticar:
✔️ Doar alimentos a instituições de caridade.
✔️ Ajudar em cozinhas comunitárias.
✔️ Preparar refeições para os necessitados.
🙏 Exemplo de santo: São Vicente de Paulo, que dedicou sua vida ao serviço dos pobres e famintos.
2. Dar de beber a quem tem sede
📖 “Tive sede e me destes de beber” (Mateus 25,35).
A sede representa também a necessidade de dignidade e justiça.
✅ Como praticar:
✔️ Apoiar projetos de acesso à água potável.
✔️ Distribuir água para moradores de rua.
✔️ Conscientizar sobre o consumo responsável da água.
🙏 Exemplo de santa: Santa Teresa de Calcutá, que levava água e cuidados aos mais necessitados.
3. Vestir os nus
📖 “Aquele que tem duas túnicas, reparta com quem não tem” (Lucas 3,11).
Ter roupas adequadas é um direito básico e uma questão de dignidade humana.
✅ Como praticar:
✔️ Doar roupas para quem precisa.
✔️ Ajudar em campanhas de arrecadação de vestimentas.
✔️ Conscientizar sobre o consumo sustentável da moda.
🙏 Exemplo de santo: São Martinho de Tours, que cortou sua capa ao meio para dar a um mendigo.
4. Acolher os peregrinos e estrangeiros
📖 “Era estrangeiro e me recebestes em casa” (Mateus 25,35).
O cuidado com aqueles que estão longe de casa é um ato de amor fraterno.
✅ Como praticar:
✔️ Ajudar refugiados e imigrantes.
✔️ Acolher moradores de rua e ajudá-los a encontrar abrigo.
✔️ Oferecer hospitalidade aos que necessitam.
🙏 Exemplo de santo: São Bento, que fez da hospitalidade uma regra fundamental de sua ordem monástica.
5. Visitar os doentes
📖 “Estava doente e cuidastes de mim” (Mateus 25,36).
A presença amorosa pode ser um grande consolo para quem sofre.
✅ Como praticar:
✔️ Visitar hospitais e lares de idosos.
✔️ Dedicar tempo aos doentes e levar esperança.
✔️ Oferecer ajuda a familiares de enfermos.
🙏 Exemplo de santo: São Camilo de Léllis, que fundou uma ordem dedicada aos doentes.
6. Visitar os presos
📖 “Estava na prisão e fostes me visitar” (Mateus 25,36).
Mesmo aqueles que erraram merecem dignidade e a chance de redenção.
✅ Como praticar:
✔️ Apoiar pastorais carcerárias.
✔️ Levar apoio espiritual a detentos.
✔️ Ajudar ex-presidiários a se reintegrarem na sociedade.
🙏 Exemplo de santo: São João Bosco, que ajudava jovens infratores a se recuperarem por meio da educação.
7. Enterrar os mortos
📖 “A sepultura de um irmão é um ato de respeito e amor.”
Dar um enterro digno aos falecidos é um ato de caridade e respeito pela vida humana.
✅ Como praticar:
✔️ Apoiar famílias enlutadas.
✔️ Ajudar nos funerais de pessoas sem recursos.
✔️ Rezar pelos falecidos.
🙏 Exemplo de santo: São José de Arimateia, que deu a Jesus um sepulcro digno.
A relação entre Obras de Misericórdia Corporais e Espirituais
Embora as Obras de Misericórdia Corporais atendam às necessidades físicas do próximo, elas estão profundamente ligadas às Obras de Misericórdia Espirituais. Ambas se complementam, pois cuidar do corpo e da alma faz parte do mandamento de amar a Deus e ao próximo.
Exemplo: Dar comida a um faminto (obra corporal) e consolá-lo em seu sofrimento (obra espiritual) são gestos inseparáveis de verdadeira caridade cristã.
Por que praticar as Obras de Misericórdia Corporais?
📖 “Sede misericordiosos, como vosso Pai é misericordioso.” (Lucas 6,36)
A misericórdia é um reflexo do amor de Deus por nós. Ao praticarmos essas obras, nos tornamos instrumentos da graça divina no mundo. A Igreja ensina que as Obras de Misericórdia são um caminho para a santidade e a transformação pessoal.
Essa prática demonstra atos tangíveis de amor e compaixão para com os outros, abordando diretamente suas necessidades físicas e refletindo os ensinamentos de Jesus ao tratar todos como se fossem Cristo disfarçado, essencialmente mostrando o amor de Deus por meio de ações concretas no mundo; é uma maneira de cuidar ativamente dos mais vulneráveis na sociedade e viver os valores cristãos por meio do serviço ao próximo.
Conclusão: Um Chamado à Ação
A prática das Obras de Misericórdia Corporais é um convite de Cristo para enxergarmos sua presença nos que sofrem. Cada gesto de caridade é uma resposta concreta ao Evangelho e um meio de santificação pessoal. Fonte: Minha Biblioteca Católica
Fonte: Minha Biblioteca Católica
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