Conhecendo a si mesmo através da humildade
Pode-se definir a humildade da seguinte forma: “Uma virtude sobrenatural que, pelo conhecimento que nos dá de nós mesmos, nos inclina a nos estimarmos em nosso justo valor e a buscarmos o abatimento e o desprezo” (Cf. Compêndio de Teologia Ascética e Mística, n. 1127). Por ser uma virtude sobrenatural, pratiquemos qualquer exercício humano, não é algo de origem humana, é Deus quem nos dá. E isso acontece quando a pessoa está em Estado de Graça; nessa ocasião, ela recebe todo o cortejo das virtudes sobrenaturais. Enquanto recebe as virtudes sobrenaturais, aí sim, deve procurar conhecê-la e praticá-la com a ajuda da Graça Atual.
Percebemos as inúmeras imperfeições que carregamos, os atos maus que cometemos, o quanto precisamos melhorar em diversos aspectos, e assumimos nossa máxima culpa em todas essas coisas. O orgulhoso, por sua vez, enxerga os atos bons e diz: “Eu tenho mérito, eu fiz tal coisa, se não fosse eu…”. Percebe-se um abismo entre a maneira de pensar e se comportar do homem humilde e o homem orgulhoso, este último sempre fará referência a si, aos seus feitos e pouco fará juízo de suas ações.
Elogio à humildade
A Sagrada Escritura é repleta de ensinamentos e, quanto à virtude da humildade, diz o seguinte: “Revesti-vos todos de humildade no relacionamento mútuo, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, sob a poderosa mão de Deus, para que, na hora oportuna, Ele vos exalte” (cf. I Pd 5,5-6); também diz: “Todo aquele que se humilhar será exaltado” (cf. Mt 23,12).
Há uma ordem para sermos humildes e uma promessa direta para aqueles que entram nesta forma. Deus dará a sua graça e exaltará os humildes. Contudo, não confunda essa exaltação com o modelo que temos neste mundo. A exaltação de que a Palavra nos fala é o acesso ao Reino dos Céus. Se não formos humildes, não acessaremos o Reino dos Céus: “Se não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus” (Mt 18,3).
Pelo exercício dessa virtude, podemos combater com mais força o demônio, que é orgulhoso e nos ataca para devorar. Combatemos as tentações da carne porque nos conhecemos melhor e desconfiamos de nós mesmos. Combatemos o mundo porque vivemos com mais intensidade a metanoia, a mudança de vida proposta pelo Evangelho.
A humildade e o acesso ao Reino dos Céus
Não há vida de oração sem humildade. O próprio Catecismo afirma o seguinte: “A humildade é o fundamento da oração […] A humildade é a disposição necessária para receber gratuitamente o dom da oração: o homem é um mendigo de Deus” (cf. CIC 2559). Inclusive, muitos santos recomendam que se faça um ato de humildade logo no início da oração, e que depois, durante a oração, se repita este ato de humildade quantas vezes for necessário.
A humildade nos assemelha a Nosso Senhor Jesus Cristo, que “despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte de cruz!” (cf. Fl 2,7-8). Cristo é o nosso modelo, não temos outro caminho senão por Ele, conforme está escrito: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (cf. Jo 14,6). Essa é uma enorme graça, um presente que Deus nos deixou, ao se encarnar e viver o que é próprio desta vida, exceto o pecado, Ele passou por diversos desafios e humilhações. E assim, Cristo santificou a vida comum dos homens.
Portanto, quando vivemos o comum desta vida, em Estado de Graça, imbuídos da humildade e todas as outras virtudes, caminhamos na esteira da santificação. Quando nos humilham, nos julgam, desdenham a nossa pregação, quando somos preteridos, perseguidos, caluniados, escorraçados, achincalhados, traídos, abandonados e mortos; podemos dizer: estamos na via humilhante do Senhor. Não deveríamos exultar por tamanho presente? Porém, não exultamos porque ainda em nossa alma impera o verme do orgulho e do amor próprio desordenado.
Humildade: base da vida espiritual
Sem a humildade, fundamento da vida espiritual, todo edifício não permanece de pé, tudo desaba. Mas quando entendemos a importância desta virtude e o quanto devemos exercitá-la no dia a dia, descobrimos uma chave que nos dá acesso a um tesouro. Esta é a graça reservada aos pequeninos, àqueles que se apresentam diante de Deus, como o publicano que se pôs a rezar do seguinte modo: “O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem se atrevia a levantar os olhos ao céu, mas batia no
peito, dizendo: Meu Deus, tem misericórdia de mim, que sou pecador!” (cf. Lc 18, 13).
A parábola termina dizendo que este homem voltou para casa justificado. Não há dúvida, somos pecadores e não merecemos tamanha graça, só nos resta o caminho dos pequeninos, a humildade.
Fonte: Canção Nova – Jonathan Ferreira/Missionário Canção Nova
Deixe um comentário