Os dogmas marianos, embora proclamados oficialmente em momentos específicos pela Igreja, já eram vividos e acreditados pelos primeiros cristãos. Essas verdades sobre Maria foram cultivadas na vida e na devoção do povo de Deus muito antes de serem formalizadas, refletindo um entendimento profundo e espontâneo do papel especial da Mãe de Jesus no mistério da salvação. Assim, cada dogma mariano é uma expressão de fé que, ao ser reconhecida pela Igreja, confirma aquilo que os fiéis já experienciavam e veneravam na prática.
A Maternidade Divina
O dogma da Maternidade Divina, proclamado no Concílio de Éfeso em 431 4, revela a essência do mistério do amor de Deus por nós. Ao considerar Maria como a Theotokos — Mãe de Deus 5 — não exaltamos apenas sua dignidade, mas nos deparamos com o mistério insondável da encarnação divina.
Deus, ao escolher entrar na história humana, o fez através do “sim” de Maria, uma mulher humilde e plenamente aberta à sua vontade. Este título, “Mãe de Deus”, revela-nos que Maria não é apenas mãe de Jesus enquanto homem, mas Mãe de Deus, pois Jesus é verdadeiramente Deus e homem, inseparáveis em sua natureza divina e humana. 6Mãe de Deus, não porque o Verbo de Deus dela tenha recebido a natureza divina, mas porque dela recebeu o corpo sagrado, dotado duma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne» 4
Portanto, ao invocá-la como Theotokos, reconhecemos a beleza do plano de salvação: Deus quis precisar do amor e do cuidado de uma mãe para se aproximar de nós.
Se você quer entender este dogma leia mais neste artigo.
A Virgindade Perpétua
Maria tinha o desejo de manter-se pura e virgem para Deus, mas Ele, em sua infinita sabedoria, quis que ela se casasse com José e fosse mãe do Salvador. No entanto, Deus não desprezou aquele seu desejo profundo e sincero; ao contrário, Ele o elevou e o consagrou de uma maneira única.O aprofundamento da fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria (162), mesmo no parto do Filho de Deus feito homem (163). Com efeito, o nascimento de Cristo «não diminuiu, antes consagrou a integridade virginal» da sua Mãe (164). A Liturgia da Igreja celebra Maria “Aeiparthenos” como a «sempre Virgem»(165) 7
O dogma da Virgindade Perpétua de Maria revela que ela aparece virgem antes, durante e após o nascimento de Cristo. Este mistério nos convida a contemplar o modo especial com que Deus se fez presente no mundo, honrando tanto a maternidade quanto a virgindade de Maria. Sua virgindade perpétua é, assim, um testemunho de sua entrega total a Deus, de uma vida plenamente consagrada ao plano divino, que acolhe o próprio Deus em seu ventre sem perder sua pureza. 8
Esse dogma é um chamado à contemplação de um amor que se sacrifica e de uma santidade sem igual. Ao permanecer sempre virgem, Maria testemunha que toda a sua existência pertence a Deus e que sua maternidade é fruto de uma ação direta do Espírito Santo, sem interferência humana.
Saiba mais sobre este lindo dogma de fé: a Virgindade Perpétua de Maria.
A Imaculada Conceição
Em 1854, o Papa Pio IX proclamou o dogma da Imaculada Conceição, confirmando a verdade de que Maria foi concebida sem o pecado original. 9Para vir a ser Mãe do Salvador, Maria «foi adornada por Deus com dons dignos de uma tão grande missão» 10
Desde o primeiro instante de sua existência, ela foi preservada dessa mancha que atinge todos os seres humanos, sendo pura e cheia de graça. Esse dom especial não é mérito humano, mas um privilégio único concedido a Maria por Deus, em vista da missão extraordinária que ela teria de acolher o próprio Filho de Deus em seu ventre.
Deus, em sua infinita sabedoria, quis que a mãe de Jesus fosse um reflexo perfeito de pureza, amor e santidade. Assim, ao ser preservada do pecado, Maria foi preparada desde o início para ser o “tabernáculo vivo” da presença divina.
A Imaculada Conceição nos convida uma reflexão sobre a profundidade do amor de Deus e sobre a santidade da vocação de Maria. Ela foi chamada a viver uma vida completamente unida a Deus, sem as inclinações ao pecado que todos carregamos. Em Maria, a humanidade atinge seu ideal mais puro, aquilo que Deus sempre desejou para nós: uma vida plena, livre das trevas do pecado.
Quer saber mais sobre este dogma? Leia o nosso artigo sobre a festa e o dogma da Imaculada Conceição.
A Assunção de Maria
O dogma da Assunção, proclamado pelo Papa Pio XII em 1950, revela que Maria foi elevada ao céu em corpo e alma, ao término de sua vida terrena. Este mistério é uma resposta do amor absoluto de Deus pela mãe de seu Filho e um sinal da dignidade singular de Maria. Ela, que trouxe Cristo ao mundo e esteve plenamente unida a Ele em sua vida, foi também preservada da corrupção física após sua morte, sendo acolhida em corpo e alma no céu.Finalmente, a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada pelo Senhor como rainha, para assim se conformar mais plenamente com o seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte» (529). A Assunção da santíssima Virgem é uma singular participação na ressurreição do seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos […] 11
A Assunção é um dom extraordinário e um reflexo da ressurreição que também esperamos receber ao final dos tempos. Em Maria, Deus manifesta antecipadamente a promessa de vida eterna e de plenitude, destinando-a à glória celeste.
Esse dogma nos convida a contemplar o destino final que Deus deseja para cada um de seus filhos. A Assunção de Maria nos aponta para o céu, nos lembra da transitoriedade desta vida e da nossa vocação para a eternidade. Ao contemplar Maria elevada aos céus, somos chamados a dirigir o olhar para o alto e a buscar viver em união com Deus.
Sua Assunção é, portanto, um sinal de esperança para todos nós: a morte não é o fim, mas a passagem para a plenitude junto a Ele. Maria, já no céu, intercede por nós e nos convida a seguir seu exemplo de fé e entrega, para que um dia possamos também participar dessa glória que ela agora vive em Deus.
O que é o dogma da assunção e por que não o encontramos na Bíblia? Confira aqui.
Medianeira de todas as graças: um possível quinto dogma?
Na história da Igreja, um dogma geralmente começa com a fé viva do povo de Deus, que já confirma e vive uma verdade espiritual antes mesmo que ela seja formalmente proclamada. Assim, a devoção a Maria como Medianeira de todas as graças tem profundas raízes na experiência e na fé dos fiéis, que, há séculos, veem nela a intercessora mais próxima de seu Filho.
Essa crença se baseia no papel único de Maria no plano da salvação: ao ser Mãe de Jesus, e totalmente unida a Ele, ela participa de maneira especial na distribuição das graças divinas. Embora muitos desejem que essa verdade seja reconhecida como um quinto dogma, ela já é vívida e contemplada pela Igreja.
Reconhecer Maria como Medianeira de todas as graças é compreender que sua intercessão não diminui a mediação única de Cristo, mas reflete e amplia sua missão redentora. Maria, em sua profunda união com Jesus, se torna o canal de amor pelo qual Deus quer abençoar a humanidade.
Ao interceder por nós, Maria age como mãe solícita, desejando sempre aproximar-nos do seu Filho, a fonte de todas as graças. Um possível dogma de Maria como Medianeira viria apenas confirmar que o coração do povo de Deus já sabe: que, em cada necessidade, Maria nos acolhe e intercede, desejando para todos nós a plenitude da vida em Cristo.
Fonte: Minha Biblioteca Católica
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