O vento cessou. Mt 14,32

O vento cessou. Mt 14,32

Diante de tua presença me encontro, Senhor. Deus infinito O teu olhar me acompanha e sabes quem sou Ao enxergar tua grandeza e minha pequenez. Eu reconheço Que minha história é nada sem o teu amor. Por isso venho te buscar Porque eu preciso, meu Deus, em teus braços estar. (Walmir Alencar)

Nossa vida muitas vezes se assemelha a um pequeno barco navegando em mar aberto, vulnerável às tempestades e às intempéries da existência. Frequentemente, em conversas com amigos, usamos expressões como ‟Estou passando por uma tempestade” para descrever momentos difíceis e turbulentos. Nessas fases, sentimos os ventos da adversidade soprarem forte, ameaçando nossos sonhos e estabilidade, quase nos levando ao naufrágio. Por outro lado, em momentos de tranquilidade, dizemos que tudo ‟vai de vento em popa”, indicando que as coisas estão fluindo suavemente, como esperado.

Assim é a vida, uma jornada permeada por altos e baixos, onde enfrentamos crises e vitórias. Ao navegarmos por esses mares, muitas vezes somos tomados por um medo profundo, semelhante ao que os discípulos de Jesus sentiram quando enfrentaram as tempestades no mar da Galileia. Nos relatos bíblicos, o mar simboliza o desconhecido, o perigo e a morte. Marcos, por exemplo, narra o quase naufrágio vivido pelos discípulos enquanto Jesus dormia no barco. A calmaria só veio quando, acordado pelos apelos de seus amigos, Ele usou sua palavra para apaziguar o mar revolto.

No entanto, não é só o poder de acalmar as águas que se destaca; o texto nos convida a refletir sobre o impacto da ‟presença” de Jesus. A presença de algo ou alguém capaz de trazer paz, força e equilíbrio em momentos de tribulação é profundamente transformadora. Assim como os discípulos, nós também muitas vezes não percebemos que a presença do divino está ao nosso lado, pronta para nos auxiliar. Estamos tão imersos em nossos medos e ansiedades que esquecemos da força da fé, da confiança e do poder de transformar a adversidade em uma oportunidade de crescimento.

A fé, neste contexto, não é apenas um alicerce espiritual, mas uma energia poderosa que nos motiva a seguir adiante. Não significa que os desafios desaparecerão, mas nos dá a certeza de que não estamos sozinhos. Mesmo quando o ‟barquinho” da vida parece prestes a virar, a fé nos lembra que somos capazes de enfrentar os ventos contrários. Como Jesus perguntou aos seus discípulos: ‟Onde está a tua fé?”, essa mesma questão é feita a nós diariamente. Onde colocamos nossa confiança diante das dificuldades?

A fé é a capacidade de olhar para as tempestades da vida e, em vez de nos desesperarmos, encontrarmos a coragem para enfrentá- -las. Isso nos remete a um momento presente que seja desafiador, ele também é passageiro. O tempo, assim como o mar, é fluido e as tempestades são inevitavelmente seguidas por calmarias.

Em uma sociedade que muitas vezes valoriza a velocidade e os resultados imediatos, essa lição de paciência e confiança ganha ainda mais relevância. A cultura do ‟imediato” pode nos fazer esquecer que a vida, com suas marés altas e baixas, é um processo. Nem sempre teremos o controle sobre o que acontece, mas podemos controlar como reagimos às situações. E reagir com paciência, fé e confiança permite que enfrentemos as adversidades com mais equilíbrio.

Inspirado pela poesia de Lenine, ‟O que a vida pede de nós é um pouco mais de paciência”, podemos ver que a paciência é, muitas vezes, o que nos permite seguir adiante, mesmo quando os ventos estão fortes demais. É preciso aprender a esperar o tempo certo das coisas, a compreender que as tempestades não são eternas. São momentos de aprendizado, onde nossa fé — em nós mesmos, nos outros, e no divino — é fortalecida.

O barquinho da vida, por mais frágil que pareça, é capaz de enfrentar grandes mares quando está ancorado na fé, na resiliência e na paciência. Essa combinação nos dá não apenas a coragem de seguir adiante, mas também a sabedoria de navegar com tranquilidade, mesmo em meio aos temporais.

Fonte: Revista Ave Maria

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