A obra, indica o professor, foi pensada para todos aqueles que não conheciam ou esperavam pelo Messias, desde o idioma usado – o grego koiné, até a forma didática de explicar os fatos. São Lucas mostra também outros detalhes do que a Igreja chama de Economia da Salvação, explica Santos.
O público do evangelista era diferente (os gregos) e precisava de uma literatura com mais explicações, pois os outros evangelhos foram feitos para os judeus – Mateus era judeu e discípulo de Jesus, Marcos era discípulo de Pedro. Em Atos, o professor afirma que é possível ver essa proximidade deles, sendo assim, os relatos não apresentavam a necessidade de muitos detalhes.
“Informações que para nós (até hoje) poderiam ser consideradas grandes descobertas, para os mais próximos do círculo interno da Igreja, seriam coisas muito óbvias. Vemos que as diferenças entre as dinâmicas e os evangelhos acontecem devido a distância de tempo, troca de gerações e também devido a expansão do cristianismo. Quanto mais pessoas distantes da lei mosaica e do conhecimento dos profetas – aqueles que anunciavam a chegada do Messias, mais explicações eram necessárias”, pontua.
Contexto histórico
“O livro de Atos relata as dificuldades da Igreja com relação ao sinédrio, os judeus mais radicais. Tanto que a Igreja convive melhor com judeus e gentios em Antioquia, do que em Jerusalém. A convivência não foi perfeita, mas apresentou menos dificuldades do que no berço do cristianismo”, revela.
Lucas: o médico
Historicamente, os católicos estão acostumados a ligar a figura de Lucas com o emprego de médico. Este fato, sublinha Santos, se deve ao versículo: “Saúda-vos Lucas, o caríssimo médico” (Cl 4, 14).
O professor acredita que a experiência profissional, a vivência com diversas pessoas da nobreza e o costume com a literatura grega influenciaram na produção da obra do evangelista.
“Vemos detalhes e preocupações com informações extremamente importantes que apenas um historiador teria. O evangelho de Lucas mostra que a mensagem de Deus está presente em um mundo intelectual e em uma cultura infinitamente maior que o pequeno território de Israel. Essa produção literária nos revela que antes de acabar o primeiro século, podemos entender que o cristianismo já era muito maior que o judaísmo”.
Lendo o Evangelho de Lucas
Assim como ensina o Catecismo da Igreja católica, o professor acredita que a Sagrada Escritura deve ser lida no mesmo espírito em que foi escrita e inspirada: como uma fonte de história viva, não como um documento morto.
“Somos a religião da verdade que é viva e deve ser vivida, não a religião de um livro. Já existiu uma Igreja sem a Bíblia (da forma que a conhecemos), mas nunca uma Bíblia sem Igreja. O cristão deve ter contato com a Bíblia sabendo que ali contém histórias de um belo trabalho de equipe, entre Deus e a sua criação. Esse recorte histórico acabou, mas o trabalho de equipe com o criador não. Aprendemos com o passado para abrirmos nosso coração e nossa inteligência para que Deus continue fazendo sua obra através de nós”, finaliza.
Professor de história e teologia, Filipe Santos
Fonte: Canção Nova
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