A ascensão do vazio existencial na era digital
É possível ter uma vida cheia de sentido, com êxitos, apesar das inúmeras situações desanimadoras e, por vezes, desastrosas da vida?
Basta fazer uma busca superficial no Google que encontraremos dados referentes ao número alarmante de patologias mentais e que, muitas vezes, culminam em suicídio. E não obstante, esses números também se devem ao aumento cada vez maior do nosso acesso às redes sociais no dia a dia.
Quando existe a plena consciência de que, nesta existência, eu preciso sair de mim em direção ao outro, significa que estamos realizando a nossa missão de sermos plenamente humanos neste mundo. Manifesta-se a vontade de deixar uma marca importante para os outros que virão, para que eles mesmos sigam o seu próprio caminho em busca de sentido.
A falta de sentido, segundo Viktor Frankl, Fundador da Logoterapia, gera um vazio existencial. Algo como se o indivíduo não se pertencesse nem fizesse parte desta vida, numa profunda impressão de ausência.
O impacto do mundo digital na busca por sentido, e como encontrar o equilíbrio
Não podemos negar que o impacto do mundo digital trouxe muitos benefícios. Imagine quanto tempo levava para se comunicar através de cartas! Hoje, respondemos a vários e-mails por dia, várias mensagens por WhatsApp. Podemos conversar com pessoas de outros países através de um smartphone em tempo real – e isso é muito bom! –, mas não podemos deixar de perceber também que, em meio a tantos progressos, as pessoas estão mais tristes, sem sentido e com cada vez menos tempo para si mesmas, sem um ócio produtivo de reflexão a respeito de si mesmo e do mundo que as rodeia.
A tecnologia, que nos propôs praticidade, não nos tornou menos agitados ou menos acelerados.
A ilusão da vida perfeita e a busca por felicidade instantânea
Nas telinhas dos nossos celulares, podemos seguir muitas pessoas, a maioria com promessas de resolver nossos problemas em pouco tempo, bastando apenas que cliquemos no “saiba mais” e adquiramos um curso fantástico que vai mudar a nossa vida de uma vez por todas. Além disso, os vídeos de seus cotidianos são sempre os mais lindos, felizes e descolados, o que, muitas vezes, nos leva a fazer comparações de como estamos vivendo, vestindo, curtindo… Por que, então, não estamos tão felizes e realizados assim? Temos confiado demais em certas figuras revestidas de uma bela imagem, mas que não conhecemos verdadeiramente.
Mas qual o propósito da nossa vida?
Redescubra o sentido, olhando para dentro e para o próximo
Os especialistas, já há bastante tempo, andam preocupados, pois muitos estão perdidos nas questões próprias da vida real, com suas vitórias e derrotas, com os dias bons e os dias ruins. É crucial para uma mente sã estar diante dos enfrentamentos mais ou menos tensos do dia a dia, pois só assim é forjado um ser humano que pode ultrapassar os percalços da vida.
A ideia de que com um clique nós compramos a vida ideal tem sido tóxica para nós, causando tristeza e frustração.
Lições de resiliência e propósito inspirados em Viktor Frankl
Viktor Emil Frankl, na Áustria, seu país de origem, já fazia um trabalho contra o suicídio de jovens; ele já alertava para que esses rapazes e moças tivessem contato com as tensões inerentes à vida, e que eles fossem ajudados a pensar mais nos outros, a fazer planos para o futuro, a buscar o amor sem subestimar a capacidade de encontrar sentido a cada instante e em cada situação.
Se exigirmos do homem o que ele deve ser, faremos dele o que ele pode ser. Se, pelo contrário, o aceitarmos como é, então acabaremos por torná-lo pior do que é. Quem me disse isso não foi meu instrutor de voo; é uma citação quase literal de Goethe. Portanto, este idealismo – se é que se trata de idealismo – é, no fim das contas, o único realismo verdadeiro. (FRANKL, Viktor E. Sede de sentido. 5. ed. Tradução de Henrique Helfes. São Paulo: Quadrante, 2016).
Diante do que a vida nos apresenta, é preciso sair de nós mesmos, enfrentar o nosso dia a dia, um passo de cada vez. A pessoa humana foi criada e pensada por Deus com um coração lindamente inquieto, capaz de ser livre e responsável, com o desejo ardente por sentido, pela verdade.
Encontrando o equilíbrio:
Olhemos para trás, vemos aqueles homens e mulheres que, em sua realidade, fizeram o seu melhor por alguém, e que nos deixaram contribuições valiosas.
Frankl passou por vários campos de concentração e relatou, em seu livro “Em busca de sentido”, que pôde ver grandes homens santos, pois eles tinham um olhar não ensimesmado, mas para fora, para seus camaradas de sofrimento, naquela situação degradante, enquanto haviam aqueles que iam rumo à baixeza dos porcos.
Um passo de cada vez
Faz quanto tempo que você não busca um amigo para uma boa conversa? Planeje algo, deixe que a esperança cresça em seu coração mais uma vez, presenteie alguém com sua presença, e que a sua vida seja feita de muitas entregas, porque “A cada dia basta o seu cuidado” (Mt 6,34). O restante virá como consequência.
São Maximiliano Kolbe bem soube viver a santidade no campo de concentração, dando a vida por um pai de família. Que, a seu exemplo, possamos encontrar o prumo de nossas vidas reais. Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo (Mt 6,33).
Fonte: Canção Nova
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